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terça-feira, 12 de julho de 2016

Quanto vale a Meteorologia?


Quanto vale $$ uma Previsão de tempo ou clima? Quanto vale um mapa de vento? Quanto vale uma consultoria em Meteorologia?

Recentemente fui convidado para ministrar uma palestra sobre o Mercado de Trabalho de Meteorologia, curioso que este sempre foi um assunto que me chamou muita a atenção, por motivos óbvios. Neste texto eu pretendo ter a pretensão de trazer uma reflexão para todos nós Profissionais/Estudantes de Meteorologia sobre o mercado de Meteorologia.



Fiz uma busca na internet, mas não encontrei informações sobre as oportunidades de emprego/empresas disponíveis atualmente no Brasil e fazer uma estimativa destas oportunidades poderia ficar muito fora da realidade. Portanto, este texto não trata das oportunidades/vagas/quantidades, mas do mercado em si, suas características, empregado, empregador e ensino.

Todo mercado de trabalho tem suas características peculiares influenciadas pelo "sentimento" do empregado e do empregador, mas principalmente pelo perfil do formador do profissional. Alguns setores são predominantemente privado outros apresentam uma proporção um pouco mais dividida e outros são efetivamente Públicos. Onde nós estamos?

Atualmente o mercado de trabalho em Meteorologia oferece oportunidades de emprego no setor Público e no setor Privado, estando no setor Público as maiores oportunidades. Além disso, todos nós sabemos que o ensino de Meteorologia nível médio/superior é exclusivamente Público. Por estes motivos identificamos que a primeira ou a principal ou até mesmo a escolha mais segura dos Profissionais de Meteorologia está no setor Público. Entretanto, tenho observado que a grande maioria dos funcionários públicos ou dos pretendentes ao setor nos cargos de Meteorologia demonstram uma nítida falta de conhecimento do que é ser um servidor público. Entendo e aceito que pode não ser a maioria e eu possa estar enganado, mas este não é o ponto. Desta forma, é válido falarmos um pouco sobre o que é ser ou o que deveríamos levar em consideração ao escolhermos seguir uma carreira no serviço público:

Antes de mais nada permitam-me fazer uma observação: definitivamente somos o país do contraditório. Nos últimos anos, observamos o surgimento de uma febre na busca por concursos públicos. Na esteira desta febre surgiu-se um mercado de cursinhos e publicações especializadas no assunto, criou-se até um adjetivo para qualificar aqueles que almejam uma vaga no serviço público, CONCURSEIROS. O contraditório está no fato deste povo todo escolher representantes, presidentes principalmente, que pregam o estado mínimo, ou seja, que não querem tantas vagas de concursos assim. Uma enorme contradição, mas o tema aqui não será política.

Antes de decidirmos seguir ou não uma carreira no serviço público deveríamos (Meteorologistas ou não) ser capazes de responder duas perguntas simples:

Qual a motivação de um profissional escolher o serviço público?
R: Carreira? Ambiente de Trabalho? A qualidade/excelência das Instituições? Salário?...ESTABILIDADE?
Qual a sua opinião sobre a carreira e principalmente sobre qualidade do serviço público no Brasil hoje?
R: Funciona?, O atendimento é satisfatório? Tem qualidade? É ético?
É possível com essas motivações (Carreira, Salário, ESTABILIDADE e etc) resolver os atuais problemas (serviço de baixa qualidade) do serviço público? 

E se mudarmos as motivações do servidor público para: Vocação, Ideologia, Patriotismo, vontade de ajudar ao próximo e principalmente VONTADE de trabalhar para melhorar o SERVIÇO Público? Pois bem, a decisão de seguir no setor Público não pode ser somente pela carreira, salário, estabilidade e etc, mas sim principalmente pela ideologia. Garanto que em algum momento das nossas carreiras encontramos funcionários públicos infelizes com seu trabalho e vemos está infelicidade refletindo nas suas atividades diárias ou até mesmo na falta delas.


Uma pesquisa recente mostrou que o motivo de quase 15 milhões de jovens brasileiros escolherem fazer um concurso não é vocação, ideologia ou patriotismo e sim ESTABILIDADE, mas batalhar por Estabilidade não é pouco para quem é inteligente e determinado?
Será que alguém passaria em um concurso público sem dedicação e inteligência/conhecimento?
Não seria um anseio conservador e de pouca ambição batalhar por: Estabilidade?
Se todo mundo decidisse ser Servidor Público, teríamos 200 milhões de vagas? Afinal de contas alguém precisa pagar imposto.
Existe a tal ESTABILIDADE?
Em 2013 os EUA mandaram para casa sem salários mais de 800 mil funcionários públicos;
Na Grécia mais de 100 mil foram demitidos.
A Estabilidade NÃO existe! Precisamos aprender a viver com essa realidade.

Portanto, o problema identificado mostra que temos Profissionais de Meteorologia que escolhem seguir no serviço público sem ter perfil e as consequências destas escolha têm sido desastrosas para Meteorologia tanto no setor operacional quanto (principalmente) no ensino. 

Raciocine um pouco. Como foi sua formação dentro dos cursos técnicos ou das Universidades de Meteorologia? Seus professores aconselharam, seu departamento deu condições para você seguir no setor Privado? Se o único caminho lhe indicado foi o serviço Público você foi orientado ou preparado para tal? Alguém lhe falou que você poderia criar uma empresa de Meteorologia ou trabalhar como Consultor? Vejo com muita preocupação essa falta de informação durante a formação dos nossos profissionais de Meteorologia.

Porque isso seria uma preocupação? Existe um concurso aberto para Professor do curso de Meteorologia da UFAL (07/2016) com duas vagas onde o requisito para inscrição é ser Graduado em Meteorologia e temos aproximadamente 30 candidatos (Doutores) inscritos. São no mínimo 30 Doutores "desempregados". Em tempos de crise econômica nós sabemos que não existe previsão do surgimento de novas vagas para novos concursos, estas vagas da UFAL são provenientes de aposentadoria. 

Existem na minha visão duas consequência graves deste "encaminhamento" dos Profissionais de Meteorologia para o setor público, que são eles: a visão de que os serviços de Meteorologia são gratuitos e empecilho do desenvolvimento do setor privado de Meteorologia do Brasil. Estas consequência influenciam fortemente o consumidor dos serviços de Meteorologia.

Para mim o maior dos problemas gerado por essa cultura é a nossa Previsão de Tempo. A Previsão de Tempo no Brasil NÃO tem valor (R$) tanto o setor público (CPTEC, INMET, etc) quanto no privado (Climatempo, SOMAR, etc) a Previsão de Tempo é distribuída gratuitamente em seus portais ou produtos.



Percebam que nas ementas dos cursos de Meteorologia espalhados pelo Brasil a principal "obrigação" é formar Profissionais de Meteorologia capazes de fazer uma Previsão de Tempo, ou seja, a principal habilidade de um Meteorologista Graduado é fazer Previsão do Tempo. Habilidade essa distribuída gratuitamente. Agora como dizer para um estudante de Meteorologia que existe "vida" fora do serviço público se ao mesmo tempo eu digo para ele que a principal habilidade que ele tem é oferecida de forma gratuita pela comunidade? Imagina informar a um Engenheiro Civil que a construção de prédios é gratuita? Ou a um arquiteto que os projetos de casas, prédios e etc é distribuída de forma gratuita? 

Diante deste cenário de crise e incertezas eu pergunto. Estamos preparados para ser um consultor ou empreendedor de Meteorologia? Quanto custa uma Previsão de tempo ou clima? Como eu calculo o preço de uma simulação climática ou um mapa de vento? Isto é ensinado nas salas de aula? Chutar um valor entre 10 e 100 mil é saudável para o setor privado? Os preços praticados pelas empresas privadas estão dentro da realidade?

Diante de um cenário de crise econômica e de poucas oportunidade de concursos me preocupa muito a existência destes diversos fatores que prejudicam o crescimento do setor privado em Meteorologia no Brasil. Sabemos que as instituições Públicas disponibilizam de forma gratuita para população outros produtos além da Previsão de Tempo. Além disso, há relatos de que destas instituições concorrendo com as instituições privadas por projetos e por espaço no mercado privado.

As Universidade continuam formando Meteorologistas os cursos técnicos continuam formando técnicos em Meteorologia as pós-graduação continuam formando Mestres e Doutores em Meteorologia sabemos que não teremos concursos públicos nos próximos anos, sabemos que as instituições de fomento (CNPQ, CAPES e as Fundações de Amparo a Pesquisa) não terão Bolsas suficientes para manter tantos Meteorologistas e que cada vez mais criamos mecanismos para enfraquecer o setor privado. 

Não passou da hora de discutirmos o fortalecimento do setor privado de Meteorologia? Não passou da hora de utilizarmos o setor Público de Meteorologia para fortalecer o setor privado e não o contrário? Não passou da hora de prepararmos nossos Profissionais de Meteorologia para o setor privado ou para criar o setor privado de Meteorologia do Brasil? Não passou da hora dos cursos de Meteorologia do Brasil terem disciplinas voltadas a administração e empreendedorismo? Vale a ressalva o curso de Ciências Atmosféricas da UNIFEI é uma excelente exceção neste ponto.

Precisamos pensar urgentemente no mercado de trabalho brasileiro de meteorologia. As instituições Públicas precisam encontrar seu melhor papel neste mercado. As empresas de meteorologia precisam valorizar seus produtos e sua mão de obra. Os meteorologista precisam saber que existe outras opções além da pós. As instituições de ensino precisam preparar seus estudantes para o setor privado. Para aqueles que acham que criar um mercado de trabalho, criar seu próprio emprego empreender em Meteorologia é muito difícil eu lhes digo que fazer uma pós viver de Bolsa esperar um concurso público não é nada fácil.

Para quem tem dúvida se Meteorologia dar dinheiro existe uma estimativa de que o setor privado de Meteorologia rendeu no ano de 2014 algo próximo de 30 milhões de reais no ano, detalhe este setor está concentrado na região sudeste. Além disso, para quem não sabe a IBM comprou a Weather Channel no ano passado por 2 bilhões de dólares.

Boa Sorte e Bom Trabalho a Todos!

3 comentários :

  1. Excelente análise Cristiano. Concordo plenamente contigo. Se não for pelo setor privado a meteorologia se esgotará em breve no Brasil.

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  2. Cristiano, excelente texto! E obrigado pela citação ao curso de Ciências Atmosféricas da Unifei. Temos trabalhado para formar um aluno com todos os quesitos acadêmicos necessários, mas também com um olho voltado ao mercado. Suas contribuições têm sido bem-vindas. Abração!

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